quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O Jabuti se mexe


O poeta e crítico americano Ezra Pound (1885-1972) cunhou uma imagem poderosa ao dizer que "artistas são as antenas da raça". Em termos mais contemporâneos, pode-se afirmar que eles ao menos captam em suas obras a imagem daquilo que cada nação almeja ser.
Tome-se o caso da literatura: seria possível pensar no Brasil de hoje sem um Machado de Assis, um Jorge Amado, um Drummond de Andrade, um Guimarães Rosa?
Os saudosistas dirão que não se fazem mais poetas e escritores como antes. Mas esse pode não passar de um erro de perspectiva, produto da falta de distanciamento.
Poucos discordariam, contudo, de que prêmios exercem papel de relevo no fomento e na divulgação da literatura de um país. Basta pensar na importância de láureas como o Pulitzer, nos Estados Unidos, o Man Booker, no Reino Unido, ou o Goncourt, na França.
Por aqui, essa distinção coube tradicionalmente ao Prêmio Jabuti, criado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em 1959. Seu primeiro ganhador foi Jorge Amado, com "Gabriela, Cravo e Canela".
O Jabuti vem sofrendo, no entanto, forte concorrência. Ganharam prestígio, nos últimos tempos, o Prêmio São Paulo de Literatura, da Secretaria de Estado da Cultura, e o Portugal Telecom, que leva o nome do patrocinador.
A razão mais saliente, decerto, é o alto valor em dinheiro agraciado pelos competidores --respectivamente, R$ 200 mil e R$ 100 mil para o vencedor principal. No caso do prêmio da CBL, são R$ 38,5 mil.
Além disso, naqueles dois casos, a escolha compete a um júri de corte mais acadêmico. No Jabuti, votam também representantes do mercado editorial, o que já suscitou suspeitas de influência de interesses comerciais no resultado.
De todo modo, o prêmio da CBL permanece o mais cobiçado por muitos escritores, pela reputação de que desfruta na imprensa e entre editores nacionais e estrangeiros. Mais ainda: o montante pulverizado entre suas 27 categorias alcança R$ 164,5 mil, não tão distante dos totais distribuídos por São Paulo (R$ 400 mil) e pela Portugal Telecom (R$ 200 mil).
Não faltam condições, assim, para o Jabuti manter sua liderança e até amplificar o estímulo que oferece à leitura. É o que pretende a nova curadora do prêmio, a escritora de livros infantojuvenis Marisa Lajolo, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Um bom começo seria reestudar a conveniência de manter quase três dezenas de categorias de premiação, que incluem até livros de gastronomia, saúde e psicanálise. Folha, 13.08.14.

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